sábado, novembro 17, 2007

Sol, lua e menino

(por http://www.eloynunes.com)

O garotinho venceu as tábuas traiçoeiras do Trapiche do Laranjal, aos trôpegos. Sem pestanejar, sem corrimão, ninguém a vista.
Conquistou o ponto mais adentro da Lagoa dos Patos e sentou com os pés e olhos soltos... Um final de tarde atípico aquele.

Apesar do calor e das águas convidativas, os gaúchos sumiram. Só ele estava ali, conferindo o entardecer mais lindo que já surgiu!

O céu de azul limpo ganhou camadas sobrepostas de roxos, lilases, amarelos, brancos, e o sol, digno e firme, cedia espaços à lua cheia.

Um momento estava entregue ao astro-rei, noutro, queria pegar a lua, de tão próxima. Achava que era sua, sua nova peteca preferida!

Viu que não via as margens do outro lado da Lagoa, mesmo assim, a imensidão não lhe assustava, incentivava a imaginar!

O sonho da sua existência tão prematura estaria acolá, depois daquele mundão d’água... Ou aqui, como a lua, a luz da lua, o efeito da lua. E do sol.

Estava acompanhado da natureza e escurecia... Qualquer criança ficaria apavorada, ele, não! Estava sob o luar.

Encontrava cumplicidade que só sentiu no seio da mãe, no colo do pai.
Só com gente que um dia deixa de ser gente... Já a lua triunfará na despedida do sol, sempre.

Os pés já não balançavam, olhos aquietados, adormecera numa noite tão acolhedora que até a eletricidade acabou na região, em respeito.

E a lua luziu o luar sobre o menino, que virou Luz na beirada do Trapiche. Virou celestial, como a lua, como o sol, como os sonhos de todo menino.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Quem são meus finados?

Não entendo a razão do dia 02 de Novembro ser feriado no Brasil. Será que o brasileiro dá o devido valor a essa questão? Quantos reservam esse dia para lembrar e honrar os seus mortos?
Escrevo sobre isso porque eu mesmo constato que não o fiz, não reservei esse dia a eles. Minha programação para o feriado inclui comemoração com amigos, num clube e uma ida ao cinema no final da tarde.
Meus mortos não estão aqui, nessa cidade em que me encontro hoje, mas não creio que seja necessário estar no cemitério para lembrá-los.
Quem são eles?
Não são muitos... ou são?
Meu avô Alziro, quando partiu? Não me lembro o ano. Lembro que não chorei. Estive no velório - preciso lembrar a todos que não gosto de velórios e não quero que façam isso por mim - que foi na casa em que ele foi morar, no Pradoso (povoado na zona rural de Vitória da Conquista), depois que se separou de minha avó Cidia.
Meu outro avô, João Severiano Granja (Painho), partiu quando eu ainda era uma criança de colo. Quase não tenho lembranças dele. Tenho algumas, creio que por causa das fotos.
Muitos anos depois, no ano passado, minha avó, Laurentina Benta de Oliveira (Mainha), se foi. Talvez a pessoa que mais vezes disse e demonstrou o quanto me amava. Não sei se foi ao encontro de Painho, pois havíamos sido informados que ele já estava se preparando para voltar à Terra.
Talvez por isso, pouco tempo depois, minha tia Consuelo, após uma brava luta contra o câncer, foi ficar com Mainha do lado de lá. Engraçado, pois dizia-se nas conversas entre as Granja, que Concinha era a filha preterida de Dona Loura. Saudades de minha tia, mas é aquela que a gente sente que cumpriu o que deveria fazer aqui.
Devo lembrar ainda que, no mesmo ano da partida de Mainha, Enrico Caruso nos deixou. Um cocker spaniel que levei para casa em dezembro de 1996. Não chegou a completar 10 anos de vida. E eu não estava por perto quando ele adoeceu gravemente e depois, não resistindo, partiu, despedindo-se de nós, através de um sonho de minha irmã.
A celebração da igreja católica, na TV diz: "Saudade sim, tristeza não". É difícil...
E há outros: Mônica, nossa amiga, que desencarnou este ano, junto com seu noivo Lincoln e todos aqueles que admiro e cedo se foram: Cássia, Cazuza, Renato, Elis, Nara... Caramba! Lembrei agora daquele de quem eu não gostava quando estava entre nós, mas se foi e eu não tenho o direito de lhe desejar mal algum. Espero que seja sim amparado por Deus e não se demore muito na erraticidade: Antônio Carlos Magalhães (que Deus o tenha).
Não pretendo que esse texto sirva de desculpa para o fato de eu não ter reservado esse dia para eles. Serve talvez para eu mesmo constatar a minha falta de compromisso com algumas coisas.
Será que ano que vem será diferente?
Será que alguém vai colocar em votação que o dia deixe de ser feriado nacional?
Será que a lista dos meus finados aumentará?
Será que eu mesmo não farei parte desta "categoria"?
A todos os que passaram por minha vida (direta ou indiretamente) e já voltaram para o Mundo Maior, meu amor e respeito! Que Deus os tenha!